sábado, 19 de abril de 2008

Vida de cão - leia e veja o que eles sofrem

A vida de Jade mudou completamente quando sua família decidiu trocar a casa por um apartamento. De hora para outra, acabaram o conforto, os carinhos e as regalias. Acostumada a ser o centro das atenções, de repente ela viu-se presa em uma cela, cercada de estranhos. Sem entender direito o que estava acontecendo, passou dias tristes deitada num canto. Parou de comer, emagreceu, ficou doente. Não fosse por um grupo de pessoas que decidiu ajudá-la, hoje estaria morta. Jade é uma husky siberiana, mas poderia ser uma poodle, rotweiller, fila ou vira-lata. Assim como ela, dezenas de cachorros são abandonados diariamente em São Paulo, apesar disso ser um crime previsto em lei federal. Calcula-se que os cães sem dono já passem dos 200 000 somente na capital. São animais largados em ruas, parques e praças, muitos deles ainda filhotes. “É um fenómeno tipicamente urbano”, diz Marco Ciampi, Presidente da Associação Humanitária de Protecção e Bem-Estar Animal (Arca Brasil). “Para acabar com a solidão das grandes cidades, as pessoas decidem ter um bicho de estimação. Depois de um tempo, enjoam e se livram dele, como um objecto que não querem mais.” A história de Jade teve um final feliz por ela ser de raça, uma raridade entra os cães abandonados – quase todos vira-latas, pelos quais pouca gente se interessa. No seu caso, o antigo dono decidiu deixá-la no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Diadema, que sacrifica animais, ainda que sadios. É uma perversidade: ali, só sobrevivem aqueles que arranjam logo um novo lar. Os outros morrem com injecção letal. Indignados, os responsáveis pela secção municipal da União Internacional Protectora dos animais entraram com uma representação no Ministério Público contra a matança dos saudáveis. O CCZ de Diadema não fala sobre o assunto e proíbe que se fotografe seu corredor da morte. “Para salvar Jade, tivemos de agir rápido”, conta a dona-de-casa Sueli Ferrari, que deu a cadela à filha Juliana, depois de ter se desfeito de seu weimaraner alguns anos atrás. “Fiquei com peso na consciência. Resolvi então adoptar um cachorro em vez de comprá-lo num pet shop.” A decisão, aliás, rendeu uma boa economia: um filhote de husky custa, em média, de 300 a 1000 reais, dependendo do pedigree.Em São Paulo, são recolhidos diariamente cerca de 60 cachorros abandonados. Diferentemente de Diadema, o CCZ da capital sacrifica apenas os animais doentes ou muito idosos. A equipe de veterinários selecciona os sadios e mais dóceis para a adopção. Apesar de vacinados, vermifugados e castrados, esses cães custam a arrumar uma casa. Enquanto aguardam um novo dono, ficam em celas separadas. Quando alguém se aproxima das grades, eles logo abanam o rabo e exibem sua carência no olhar, numa cena comovente, como se soubessem que podem sair dali caso agradem ao visitante.

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